Omraam Mikhaël Aïvanhov
O ANO NOVO
“Gostaria de vos dizer hoje algumas palavras acerca do que nos ensina a tradição esotérica a respeito do primeiro dia do ano novo. Mas, como sabeis, os únicos conhecimentos que me interessam são aqueles que podemos pôr em prática; portanto, o que vou dizer-vos poderá ter aplicações imediatas na vossa vida quotidiana. Geralmente, o primeiro dia do ano encontra as pessoas nos "dancings" e nos clubes nocturnos; elas sentem-se felizes saudando o ano novo e por isso começam-no com divertimentos, com prazeres, com loucuras. Mas, depois, viverão assim todo o ano, na futilidade e na inconsciência; e como a inconsciência acarreta atribulações, estas depressa surgirão. É tolice começar o ano com tais manifestações; isso prova que não se tem qualquer noção do aspecto espiritual e mágico de cada coisa. Ora, a mim, é isso que me interessa. A Cabala ensina-nos que cada dia é um ser vivo, sensível, que regista toda a nossa actividade física e psíquica. Podemos dizer, portanto, que os 365 dias do ano são como que uma fita magnética em que cada dia é anotado com o que há de bom e de mau, feliz ou infeliz. Cada ano da nossa vida representa, assim, uma fita magnética gravada. O ano que começa é completamente novo, mas ao mesmo tempo, tem a velhice de tudo o que o homem já viveu. Como a água pura das montanhas que vem misturar-se à água estagnada da planície, o ano novo não o é, contudo, completamente, porque é vivido por homens que arrastam consigo demasiadas coisas velhas. Por isso, ainda que tudo seja novo, eles não conseguem viver uma vida nova. O ano novo é virgem e sem mácula, mas onde é que ele se mete? Em quem é que ele entra? O passado – isto é, os estados e os acontecimentos que o homem viveu - inscreveu-se nele e ficou lá gravado; por isso lhe é tão difícil apagar essas marcas, esses registos, essas matrizes do passado. Para o conseguir, é necessária uma grande ciência e também muita paciência e muita vontade. Mas, quando eu falo do passado, não se trata apenas do passado desta encarnação, dos dias e anos que se acabou de viver. Trata-se, igualmente das outras encarnações, porque o homem arrasta consigo as marcas do seu passado próximo e longínquo. Só os Iniciados sabem trabalhar sobre si mesmos para se limparem das manchas do passado; os outros nem sequer imaginam que há um trabalho a fazer para que o presente, que brota sempre novo, não seja contaminado pelo que é velho, bolorento ou caduco. Como vedes, a questão não é simples como se imagina. Infelizmente, a maioria das pessoas não pensa que existe algo para estudar, para aprofundar e transformar; elas esperam cada novo ano com a firme esperança de que aquele ano, finalmente , lhes trará tudo o que desejam: a sorte grande, o casamento com um príncipe, a herança fabulosa duma avó ou dum tio da América. Outras procuram incessantemente fórmulas que lhes permitam descobrir tesouros escondidos em grutas ou no fundo dos mares. As pessoas procuram sempre viver na ilusão. "O ano novo - dizem - trar-me-á isto... ou aquilo ... », e ficam à espera. Mas o ano passa-se como os outros, e por vezes pior do que os outros. Não se semeou nada e espera-se que as coisas germinem! Mas não, nestas condições jamais germinou, em parte alguma, o que quer que fosse. Se plantastes, tendes o direito de esperar pelos frutos, se não, nada haverá a esperar. Vós trabalhastes, lavrastes a terra - a vossa própria terra -, semeastes e plantastes alguma coisa em vós? Então, sim, podeis esperar que o ano novo vos traga alegria, felicidade e paz; e ainda que não as espereis, ele trar-vo-las-á. Mas se nunca tiverdes plantado o que quer que seja e estiverdes com esperança ... será esperança desesperante, isso garanto-vos eu, porque não está baseada em qualquer lei natural. O ano novo não está completamente separado do anterior; ele está sempre relacionado com ele, talvez não directamente, mas indirectamente. Porque é novo, parece virgem e fresco como uma criança ... É costume dizer-se que uma criança acabada de nascer é inocente, sem mácula. Sim, mas só aparentemente, porque essa criança, que já está ligada aos pais, aos avós, aos antepassados, à sociedade, ao espírito do século, também traz em si as marcas das suas vidas passadas, e um dia, de uma maneira ou de outra, tudo isso virá ao de cima. O ano novo é virgem, puro, inocente, foi talhado em tecidos duma alvura imaculada, mas, quando entra em contacto com o homem, logo se colora, como a água pura que desce do céu e toma a cor dos terrenos que atravessa. O ano a que se chama novo é, pois, já velho desde o começo, porque encontra um homem já velho nos seus pensamentos, sentimentos e hábitos. Ele não pensou em limpar as panelas ou os cântaros em que irá recolher a água pura do ano novo. Todavia, é isso que se aprende numa cozinha: quando precisamos de deitar água limpa num recipiente, lavamo-lo e, por vezes, até temos que lhe raspar as paredes para que a água não fique suja; até as crianças sabem isso. Mas quando se trata de verter uma água pura na sua alma, na sua cabeça, no seu coração, o homem não pensa em purificar-se. Ele não aprendeu a lição que aplica todos os dias na cozinha, não compreendeu que também no domínio interior deve seguir as mesmas regras: rejeitar o que já está sujo e guardar só o que é puro.* Quantos pormenores da vida quotidiana podem fazer-nos compreender esta verdade! Numa casa, por exemplo, há quadros, belos móveis ou jóias de valor; as pessoas guardam-nos durante anos, e por vezes até séculos; mas desembaraçam-se de tudo o que não tem qualquer valor; e também das flores: elas são mantidas durante dois, três dias, e depois têm que ser substituídas... Mas o homem julga que pode conservar eternamente em si tudo o que está velho, sujo e corrompido! Sim. precisais de compreender melhor o ano novo, recebê-lo com a profunda convicção de que ele é um ser vivo e rico que traz grandes presentes, e que, para receberdes esses presentes, deveis preparar numerosos lugares em vós, limpá-los infatigavelmente e retirar as coisas velhas acumuladas no vosso coração e na vossa mente. Mesmo antes da sua chegada, já deveremos ter reservado em nós um lugar para o ano novo. A Cabala diz ainda que o ano novo é influenciado pelas estrelas. O nascimento dum ano é semelhante ao nascimento duma criança. É o nascimento duma vida que durará um ano, Quando nasce uma criança, faz-se o seu horóscopo com base no dia e na hora do nascimento, a fim de se determinar o desenrolar dos acontecimentos ao longo de toda a sua vida. Passa-se a mesma coisa em relação ao ano, e ainda devemos saber que o primeiro dia irá determinar o primeiro mês, o segundo dia o segundo mês, o terceiro dia o terceiro mês... Devemos, pois, esforçar-nos por viver, pensar, sentir e comportar-nos o mais correctamente possível pelo menos durante os doze primeiros dias, para estabelecermos uma base inteligente, luminosa, graças à qual os doze meses do ano serão influenciados e determinados para o bem. Alguns de vós dirão: «Eu fiz tudo o que me foi possível durante os doze primeiros dias, mas o ano não foi famoso.» É porque permitistes que ele fosse influenciado por velhas coisas do passado. Deveis limpar, raspar, lavar e purificar tudo em vós. Mas não o fazeis, não pensais nisso. Evidentemente, é impossível limpar e purificar tudo num dia: a influência dos séculos passados faz-se sentir e o ano novo será sempre misturado com o antigo. Para se conseguir uma melhoria de cem por cento seria necessário ser uma divindade. Mas melhorar a situação em vinte, trinta, cinquenta por cento, já é muito bom para os discípulos. Se quiserdes estabelecer o horóscopo do que será o ano para vós, não devereis tomar como base a meia-noite, porque a meia-noite, apesar das diferenças de latitude e de longitude, dará um horóscopo para toda a humanidade, e isso não corresponderá aos acontecimentos que poderão surgir na vida de cada um. É claro que é possível comparar este horóscopo colectivo com o vosso horóscopo natal, para prever ou explicar os acontecimentos, mas, se se quiser estabelecer o horóscopo do ano para alguém em particular, deve-se escolher o momento em que a pessoa desperta e começa a manifestar-se. É esse o momento do seu "nascimento" no primeiro dia do novo ano. Se um homem se levantar às onze horas da manhã, é para as onze 11horas que deve fazer o horóscopo, visto que é nesse momento que ele começa a mexer-se, a gritar, a perguntar à mulher: «Onde estão as minhas peúgas? Onde está a minha camisa?... » E sobretudo os botões de punho, que ele não consegue encontrar! Sim, a vida de cada pessoa é determinada pelo que ela começou a fazer no primeiro dia do ano, ao despertar. Para nós, que somos uma colectividade, o ano começa agora, no momento em que nos reunimos para orar e cantar. Depois, durante todo o dia, devereis vigiar os vossos pensamentos e sobretudo as vossas palavras; se tiverdes comichão na língua, ide esconder-vos em qualquer sítio, pronunciai algumas palavras para vos aliviardes e voltai sorridentes. Amanhã também devereis vigiar-vos, a fim de preparardes boas condições para o mês seguinte ... Claro que, mesmo assim, pode acontecer que o vosso ano não seja absolutamente ideal porque, como vos disse, o presente está ligado ao passado, isto é, aos anos precedentes e também às vidas anteriores. Se, por exemplo, estiverdes a dever dinheiro a alguém, poderá acontecer que essa pessoa venha reclamá-lo no primeiro dia do ano; ela não esperará o fim da passagem do ano, poderá vir precisamente nesse dia... E se tiverdes inimigos no plano astral, eles não deixarão de vir atormentar-vos só pelo facto de ser o dia 1 de Janeiro. Como pode alguém desembaraçar-se dos seus inimigos interiores? Eis uma questão muito importante, pois - deveis sabê-lo - o homem tem inimigos interiores, e esses são os piores. Mas, ainda que não obtenhais resultados absolutos, será sempre útil O que vos digo, porque vos permitirá melhorar a situação e sobretudo evitar que ela piore. Agora, poderemos levantar-nos e começar as nossas preces, como habitualmente. Assim, inscreveremos o primeiro dia do ano de 1963 nos registos do Akasha Chronica, vivendo este dia em oração, em adoração, em amor e cantando. E que Deus, clemente e misericordioso, se debruce sobre a Fraternidade e lhe dê todas as possibilidades de se dilatar, de projectar luz para o mundo inteiro, para que o Seu Reino se realize o mais depressa possível na terra, e que a paz e a harmonia se instalem finalmente entre o humanos! Se as pessoas, na maioria, estão demasiado tomadas com os seus assuntos ou demasiado ocupadas nas discotecas e nos cabarés para desejarem e pedirem a realização do Reino de Deus na terra, que haja ao menos algumas que o façam! Eis, pois, o trabalho a realizar este ano. Em primeiro lugar, assumirdes este ideal, este objectivo sublime: realizar, na terra, o Reino de Deus e a Sua Justiça. Depois, estardes sempre vigilantes, conscientes, a fim de vos observardes, de verdes se vos aproximais deste ideal ou se vos afastais dele. Finalmente o terceiro ponto, que está subentendido: consagrardes todas as vossas forças e capacidades à realização desta tarefa. O intelecto, o coração e a vontade estarão, então, empenhados na mesma direcção: o intelecto é sempre perspicaz, esclarecido, está sempre atento, vigilante, lúcido; o coração alimenta este alto ideal, deseja-o, ama-o e está sempre em comunicação com ele; e a vontade deita mãos à obra para servir simultaneamente o coração, que deseja o que há de melhor, e o intelecto, que, como um guia, um conselheiro, um instrutor, vigia, esclarece e orienta. Nestas condições, o espírito do homem triunfará sempre, sejam quais forem os obstáculos e as dificuldades; agora ou mais tarde; ele triunfará, porque estes três factores primordiais dispõem de elementos extremamente poderosos que nós ainda nem sequer conhecemos. Se não obtiverdes os resultados que desejais é porque não implicastes totalmente estes três factores; não os pusestes todos de acordo, ligados entre si. Cada um deles trabalha, mas por sua conta, sem relação com os outros, sem harmonia. Se o intelecto compreendeu que é magnífico subir às alturas, atingir os cumes, fundir-se com o Criador, o coração, esse, muitas vezes tem as suas preferências, que vão numa direcção completamente diferente. Por isso, deveis tentar chamá-lo à razão, orientá-lo, dirigi-lo. É possível levar o coração a desejar o que o intelecto achou razoável, sábio e útil, e incitar a vontade a executá-lo. Mas a maioria das pessoas nem se apercebem destas contradições, destas discórdias, destas guerras, dentro de si; aceitam tudo como uma fatalidade cujas causas ignoram. Elas ainda não encontraram um guia que as aconselhe a reunir estes três poderes - o intelecto, o coração e a vontade - e a orientá-los na mesma direcção. Na realidade, o homem pode remediar todas as suas divisões interiores adoptando um ideal divino e desejando a qualquer preço segui-lo, alimentá-lo, acarinhá-lo, sustentá-lo, até que esse ideal se apodere dele, se instale, se concretize, se encarne nele, até ao ponto de acabar por se confundir com ele. Todas as pessoas que vivem sem ideal vêem as suas forças dispersarem-se rapidamente e desperdiçam por completo a sua existência. Sabeis onde se encontra, muitas vezes, esta associação formidável, esta união inseparável entre o intelecto, o coração e a vontade para a realização dum ideal? Nos criminosos. Inconscientemente, eles conseguiram, como os Iniciados, unir estes três factores, mas com o objectivo de roubar, de matar, de destruir. E, geralmente, entre estes criminosos e os Iniciados encontra-se uma multidão de pessoas sem verdadeira orientação, nas quais estes três factores estão desunidos ou em luta uns com os outros. Está escrito no Apocalipse: «Sê frio ou quente! Se fores morno, vomitar-te-ei pela minha boca.» Estas palavras subentendem toda uma ciência. «Sê frio ou quente» quer dizer: sê pelo bem ou pelo mal, mas não sejas indeterminado, indeciso; que o teu intelecto, o teu coração e a tua vontade realizem, pelo menos, algo em comum. O Céu não gosta dos criminosos, mas, pelo menos, eles são seres fortes, decididos, capazes, e o Céu aprecia estas qualidades. Ainda que, de momento, estes seres pratiquem o mal, o Céu diz: «Aqueles, apanhá-los-emos ao virar da esquina. Uma pequena rasteira e fá-los-emos mudar de direcção. Uma vez que eles exercitam, há muito, a capacidade de associar o coração, o intelecto e a vontade, serão preciosos para nós e poderemos utilizá-los.» Porque, da mesma maneira que eles tiveram ardor, espírito de decisão e vontade para roubar, destruir e exterminar, também os terão para praticar o bem. Ao passo que os indecisos, os fracos, talvez não façam mal algum, mas também são incapazes de fazer bem, e o Céu coça a cabeça, sem saber o que lhes dar que fazer. Neles, tudo é desordenado, não têm a mínima convicção, qualquer um pode influenciá-los; até a loja negra poderá servir-se deles. São, pois, perigosos, e por isso está escrito que serão "vomitados", isto é, rejeitados. Se algumas pessoas não conseguem obter qualquer realização interior ou mesmo exterior, é porque nelas estes três poderes - intelecto, coração e vontade - estão desunidos. É exactamente como numa família: quando o pai segue numa direcção, a mãe noutra e os filhos numa terceira, o que é que acontece? Esta família desagrega-se. Pois bem, na família interior existem as mesmas leis: o pai. o intelecto, tem a sua opinião; a mãe, o coração, também tem a sua, completamente diferente; e a vontade, isto é, os filhos, que não têm qualquer direcção, fazem tolices, um pouco por toda a parte. Vós estais numa Escola Iniciática para tomardes consciência de muitas verdades novas, a fim de reverdes a vossa vida, de a restabelecerdes, de a organizardes e de poderdes dar-lhe uma direcção divina. Fazei uma experiência: restabelecei a ordem em vós próprios, no vosso intelecto, no vosso coração e na vossa vontade, ligai estes três factores e dirigi-os para um mesmo objectivo: a realização da vontade de Deus. Vereis como a vossa vida se modificará. Isto não quer dizer que nunca mais sereis sacudidos por tornados ou tremores de terra; não, enquanto viverdes na terra recebereis abanões, mas estes passarão depressa e já não deixarão marcas como no passado. O edifício aguentar-se-á porque estará construído com materiais resistentes. Ao passo que antes, ao menor choque, tudo se desmoronava. Não vos faço grandes promessas; não vos digo que, ao entrardes para o Ensinamento, tereis todas as riquezas, todas as glórias e a amizade de todos os príncipes. A única coisa que posso dizer-vos é que, se conseguirdes dirigir o intelecto, o coração e a vontade para um mesmo objectivo, haverá uma modificação na vossa consciência. Inicialmente, esta modificação será minúscula, mas conterá o Céu e a terra. Lembrai-vos do que disse Jesus acerca do grão de mostarda: «É a mais pequena de todas as sementes, mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se mesmo numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.» O que conta não é, pois, a grandeza ou a pequenez do grão, mas o seu vigor. Podereis interpretar o grão de mostarda como um pensamento ou um sentimento, que, aparentemente, são imperceptíveis, mas que, se forem intensos e lhes derdes condições adequadas, poderão ocasionar realizações gigantescas.
«As aves do Céu vêm abrigar-se nos seus ramos», diz Jesus. As aves são os espíritos do mundo invisível que vêm visitar-vos e até procurar abrigo em vós. Não vos faço, pois, grandes promessas; apenas vos digo que, se me compreenderdes bem, se aceitardes com amor a pequena promessa que hoje vos faço, se cuidardes dela, se a alimentardes, daí resultará uma grande árvore, onde até os anjos virão abrigar-se. A semente que hoje vos dou é a ideia de que deveis associar os três factores "intelecto", "coração" e "vontade" e dar-lhes o mesmo objectivo, porque só nestas condições é que são possíveis as grandes realizações. Como estes factores são de ordem divina, cada um deles contém tesouros extraordinários e, uma vez unidos e ligados ao Céu, estão em permanente comunicação com ele. Quando o intelecto tem as raízes no terreno do Céu, a sua luz aumenta e ele recebe, incessantemente, inspirações e revelações. Quando o coração está ligado ao Céu, onde tem a sua origem, bebe o elixir da vida imortal, bebe o amor, está sempre maravilhado, deslumbrado, e torna-se vasto como o Universo. E também a vontade constantemente exercitada se torna tão poderosa que ultrapassa todos os obstáculos; Unida ao Céu pode tornar-se poderosa como o próprio Deus. Diz-se que a união faz a força, mas, até agora, essa união tem sido sempre compreendida exteriormente nos domínios social, político e militar; As pessoas unem-se para destruir, unem-se para construir, mas tem sido sempre uma união exterior. Doravante, é necessário compreender a união interiormente. Devemos estar unidos pelo nosso ideal, por uma ideia divina, pelo amor fraternal, devemos estar unidos nos trabalhos que executamos pela realização do Reino de Deus. Então, sim, a união torna-se um poder extraordinário. A união exterior não é má, mas é incompleta. As pessoas associam-se por um tempo, mas depois essa associação desfaz-se e cada uma volta para sua casa. Ao passo de que a união de que falamos, a união que faz a verdadeira força, dura eternamente. Quando vos unis aos Anjos, ao Céu, ao vosso Eu Superior, não o fazeis por um ou dois dias, ou mesmo por alguns anos; não vos unis para obter um resultado qualquer, após o qual mergulhais novamente na ignorância e nas trevas; não, é uma união para sempre, para a eternidade… Eis o que deveis compreender. É hoje o primeiro dia do ano e, pelo menos durante doze dias, deveis conseguir vigiar-vos, estar atentos às vossas palavras, aos vossos sentimentos, aos vossos gestos, e ter sempre em vista o Reino de Deus e a fraternidade Universal. Evidentemente é muito difícil, porque há sempre coisas imprevisíveis, mas se a vossa consciência estiver vigilante, se ela orientar, corrigir, podereis fazer um trabalho glorioso, um trabalho divino. Poderá suceder que, durante estes doze primeiros dias tenhais tentações, provações, solicitações de criaturas muito inferiores… Há que contar com isso, não vos prometo que tudo será fácil nestes doze dias, nem para vós nem para mim; mas, pelo menos, todos unidos, juntos, poderemos ajudar-nos mutuamente. O mais importante é a união, mas em primeiro lugar, a união do coração, do intelecto e da vontade em nós. Um dia, quando tiverdes a possibilidade de recordar todos os acontecimentos que se deram nos diversos momentos da vossa existência, sereis obrigados a constatar que todos os minutos que passastes que a Fraternidade nas meditações, nos cânticos e na oração foram os mais importantes e mais preciosos da vossa vida. Por agora vós não vedes nem sabeis isso, mas um dia, quando virdes as coisas com mais clareza, compreendereis em que trabalho participastes, e então direis: «Deus seja louvado! Bendito seja Deus por me ter permitido participar nesta obra grandiosa!» E quando vos for dado conhecer os resultados deste trabalho, as maravilhas que ocorrem no mundo inteiro graças a ele, ficareis deslumbrados, porque o trabalho em que vos peço que participeis já foi empreendido no Alto pelos Anjos e pelas Divindades, e nós, aqui na terra, queremos apenas abrir uma portazinha, para que esse trabalho divino possa produzir os seus resultados também no plano físico.” Sèvres, de Janeiro de 1963 (manhã)
“Vejo que esperais que eu vos diga mais alguma coisa ... Não estais fatigados? ... É extraordinário! Desde esta manhã, já faz uma dezena de horas que estamos reunidos. Estais a tornar-vos infatigáveis ... Actualmente, encontramos cada vez mais pessoas fatigadas. Porquê? Porque têm o organismo sobrecarregado de impurezas que acumularam devido aos alimentos, às bebidas, ao ar poluído, mas também aos pensamentos e sentimentos grosseiros a que se entregaram. É necessário compreender bem a importância da pureza em todos os domínios. Se o homem conseguir introduzir verdadeiramente a pureza em todas as suas células, tornar-se-á infatigável, imortal. Sim, a morte recuará, ela não tem poderes sobre quem é puro. Foi assim que alguns seres, no passado, conseguiram viver séculos. Direis que não é possível... Mas é, o organismo humano está preparado para resistir milhares de anos, e se actualmente o homem não vive muito tempo, isso deve-se à sua maneira de viver. Algumas tradições referem que, na altura do nascimento duma criança, se reuniam três divindades que presidiam aos destinos humanos: os gregos chamavam-lhes Parcas; noutros países, eram fadas, que fixavam a duração da vida e davam certas qualidades ou certos defeitos à criança. Na realidade, não existem Parcas nem fadas, porque o destino de um ser está há muito determinado pelo bem ou pelo mal que ele fez ao longo das suas encarnações anteriores. Perguntareis: «Mas como é que isso é determinado?» É automático. Sim, há distribuidores automáticos. Em função das suas vidas passadas, é necessário que tal pessoa nasça em tal família, em tal país, em tal época, em exacta correspondência com o que ela deve realizar, e, automaticamente, tudo se desencadeia de modo a que assim aconteça. Quando ides a uma mercearia comprar fruta, queijo ou açúcar, uma máquina calcula o montante que devereis pagar. Ou então, introduzis algumas moedas num distribuidor automático e sai-vos uma sanduíche, caramelos ou selos de correio ... Se os humanos são tão inteligentes que conseguem fabricar distribuidores automáticos, o mundo invisível não haveria de ser capaz de o fazer? No Alto, tudo está classificado, fixado, organizado; não é preciso matar a cabeça. Não há, pois, necessidade de deuses a presidir aos destinos dos humanos, trata-se apenas duma imagem que os Iniciados da Antiguidade davam aos homens para lhes mostrar que já estava tudo determinado na altura do nascimento. Sim, esta é uma grande verdade: tudo é determinado segundo as nossas vidas anteriores. Como? Pois bem, existem no próprio homem aparelhos de registo que inscrevem, na sua memória, tudo o que ele fez: se viveu bem ou mal, se respeitou ou transgrediu as leis divinas ... Sim, são aparelhos que se ocupam disso, e depois, para classificar este homem, eles indicam apenas um nome, e, de acordo com esse nome, ele é orientado nesta ou naquela direcção. Foi em vós mesmos que a Natureza colocou máquinas que registam, depois fazem o resumo e tiram conclusões a vosso respeito. É assim que sois determinados: por vós mesmos. Ninguém, além de vós, tem o direito de vos determinar, pois isso poderia dar origem a preconceitos e injustiças. A justiça absoluta consiste em serdes julgados por vós próprios, ou seja, pelo que está no vosso íntimo, porque só vós conheceis tudo em pormenor: os vossos motivos, as vossas intenções ... Ninguém, a não ser vós, poderá conhecê-los. Portanto, ficai certos: sereis vós mesmos que, um dia, vos julgareis; os aparelhos foram tão bem instalados dentro de vós pelo Criador que não podereis enganar - vos. Quando os astrónomos e os matemáticos necessitam de efectuar cálculos extremamente complicados que os ocupariam durante semanas, utilizam uma máquina e, em poucos segundos, esses cálculos são feitos. Com o homem passa-se a mesma coisa: todos os dados do seu "problema" são registados e aparece um nome que resume o que ele é, e esse nome determina automaticamente a sua encarnação seguinte. Mas, quando eu digo "automaticamente", isso não significa que tudo se processa inconscientemente, sem inteligência. No mundo invisível, até as máquinas são conscientes. Na terra, as máquinas não são conscientes, mas no Alto tudo é consciente, porque tudo é vivo. Na Natureza, tudo são aparelhos registadores e emissores: as rochas, as pedras, a areia... Sim, se soubésseis os registos que cada grão de areia encerra! Não se conhecem ainda os meios para os decifrar, mas um dia talvez se chegue lá: pegar-se-a numa pedra do Egipto, da Índia, ou até da Atlântida, que se irá buscar às profundezas do mar, e ela contará a história de todas as épocas que atravessou. Agora, já se fala em captar os sons emitidos pelo sol e pelas estrelas. Todos os planetas e todas as estrelas emitem sons; por isso os Iniciados diziam que, na Natureza, tudo é música, tudo canta. Mas são as pedras que podem dar-nos o maior número de informações. Tudo o resto desapareceu: as plantas, os animais e os homens, com as suas descobertas; mas as pedras e os metais continuam aí e podem contar-nos a história do mundo. Eis a verdadeira arqueologia! É preciso decifrar essas peças, captando as ondas que elas emitem. Vós colocais uma fita magnética no vosso gravador e ouvis sinfonias. Onde está a música nessa fita? Podereis pesá-la e observá-la ao microscópio, que nada encontrareis. Está tudo no registo magnético. É desta forma que se fazem os registos no homem. Isto é algo que devereis saber, porque, sabendo-o, sereis obrigados a vigiar-vos e a corrigir-vos. A maioria das pessoas pensam que podem fazer mal sem ninguém saber, e esta convicção de que podem camuflar os seus actos é que as impede de evoluir. Evidentemente, podemos esconder muitas coisas das outras pessoas, mas não poderemos escondê-las de nós próprios, porque assistimos a tudo o que dizemos, a tudo o que fazemos, a tudo o que pensamos. A Natureza, que é muito inteligente, colocou no homem pequenos aparelhos que fotografam e registam tudo sem que ele o saiba. Assim, no dia em que ele compreender que lhe é impossível enganar, será honesto, definitivamente honesto. No passado, os Iniciados, que não podiam revelar estas verdades ao comum das pessoas, diziam, por exemplo, que o olho de Deus está sempre a ver-nos. Na realidade, Deus tem mais que fazer do que ver os horrores e os crimes que se cometem na terra. Se Ele visse tudo isso, seria o ser mais digno de dó. Deus não vê tudo porque não quer ver tudo. «Mas, então, Ele não sabe, tudo?» - perguntareis vós. Sim, mas não tem necessidade de assistir. Quando Ele quer saber uma coisa, sabe-a instantaneamente. Mas quando não quer, quando pretende descansar um pouco, não olha para mais nada e desliga o telefone ... Senão ... Já vos destes conta dos pedidos que Lhe dirigem todos os dias?! «Senhor, dá-me dinheiro! Senhor, acaba com o meu inimigo ... » E ainda: «Senhor, faz com que o meu marido morra, para que eu possa casar com o meu amante!!» Por isso Ele me disse, confidencialmente, que desliga o telefone para poder estar descansado. Direis que isto contradiz tudo o que está escrito na Bíblia. De forma alguma! Muitas vezes, o que a Bíblia diz é simbólico, figurado, e para compreender bem a sabedoria, a profundidade e a ciência oculta nesses símbolos é necessário ter a luz da Iniciação. Na realidade, a Criação está muito melhor organizada do que o que se pensa. Deus deixou aparelhos, por toda a Natureza, o encargo de registarem tudo automaticamente. Ah!, julgais que é Ele próprio que, dia e noite, vigia os nossos erros, passeando com um bloco de notas e um lápis para apontar tudo? Então, e se Ele precisasse de ir buscar um canivete para afiar o lápis ... quantas coisas não se passariam entretanto sem Ele as poder anotar! ... Não, não; são explicações para crianças. Para os Iniciados, Deus é um Espírito que está em toda a parte mas que não quer ver tudo, porque outros estão encarregados de ver tudo por Ele. E quando Ele quer saber alguma coisa é muito fácil. Quando um director de empresa quer ter informações a respeito dum empregado, pede-as à sua secretária, que consulta os ficheiros, e ele obtém imediatamente essas informações. Porque deveria o Senhor passar o Seu tempo a vigiar e a anotar os nossos crimes? Pensais que seria uma função honorífica para Ele? Todos os Anjos e Arcanjos que Ele criou nada fariam e Ele é que teria de fazer tudo! ... Não, isso é impossível. Agora já não conseguireis convencer os humanos a aperfeiçoarem-se se lhes disserdes que é Deus que os vê e os castiga, porque muitos deles, que reflectem, dir-vos-ão: «Não, Ele não perde o Seu tempo a vir ver o que eu faço», e continuarão a cometer crimes. Mas se lhes revelardes que tudo está registado, fotografado, no interior do homem, e que será de acordo com estes dados que, um dia, ele será julgado, é evidente que tudo se modificará. O que eu estou a revelar-vos é uma das páginas mais importantes da Ciência Iniciática. Conhecendo estas verdades, vós tendes a possibilidade mágica de recriar a vossa vida, de transformar o vosso futuro. Se agora procurardes nos vossos arquivos e virdes que caluniastes, que mentistes, que fostes egoístas, maus, e que tudo isso está registado, pois bem, procurai imediatamente gravar por cima algo de bom, de nobre, de luminoso, pois é deste modo que vos tornareis criadores do vosso destino. Perguntar-me-eis: «Mas como é que são esses aparelhos registadores que foram colocados no homem?» É uma minúscula bobina, um átomo. Pensareis que é impossível que tudo se registe num átomo ... Porquê? Reparai: no princípio, quando começaram a fabricar aparelhos de rádio, estes eram enormes; mas agora encontram maneira de os reduzir mais e mais, até ao ponto de fazerem circuitos cada vez mais pequenos, com uma tinta metálica, e a corrente circula exactamente segundo as linhas que foram traçadas. Hoje, consegue-se reduzir tanto e tornar tão leves os aparelhos que, um dia, conseguir-se-á ter, de certeza, televisores de bolso. Ora bem; a Natureza ultrapassou os humanos: diminuiu tanto o tamanho das suas bobinas de fita que as reduziu a um átomo. Quando o homem morre, apresenta esse átomo aos seus juízes e todo o filme da sua existência começa a desenrolar-se. O que é terrível é que o próprio homem assiste a essa projecção, no meio de juízes impassíveis, e revê uma porção de coisas de que já não se lembrava. Alguns livros, como, por exemplo, o Livro dos Mortos dos Egípcios, contam como a alma se apresenta diante dos juízes dos Infernos para ouvir o seu julgamento, o seu juízo. Na realidade, os juízes nada dizem, são seres silenciosos. Então, de onde é que o homem ouve o seu julgamento? Do seu interior. É o seu próprio juízo que o condena ou o glorifica. E aquele que levou uma vida verdadeiramente pura apresenta-se diante dos seus juízes, dizendo: «Eu sou puro, eu sou puro, eu sou puro, com a pureza da fénix de Heliópolis». Ele não treme, olha-os e diz simplesmente: «Eu sou puro». Porque ele se julgou a si próprio desde há muito. Mas os outros, que não sabem o que são e que esqueceram tudo, revêem o desenrolar da sua existência, e este desenrolar contém já o seu julgamento. Acreditai no que estou a dizer-vos, é a pura verdade; e, aliás, vós próprios conhecereis, um dia, a realidade desses observadores, desses juízes que estão dentro de vós. Falo-vos deles hoje para que, com o novo ano, penseis em registar em vós apenas pensamentos, sentimentos e actos positivos, luminosos . No fim deste dia, sereis como abelhas carregadas de pólen e ireis preparar o mais delicioso mel para alimentardes as criaturas do Alto. Sim, aqueles que sabem preparar o mel, que trabalham na preparação do mel para o Senhor, são abelhas. E são necessárias abelhas, porque só elas conhecem as regras da nova sociedade, da nova fraternidade. As abelhas trazem-nos todo um ensinamento. E trabalhando para a Fraternidade Branca Universal que os discípulos se transformarão em abelhas que fabricam o mel na harmonia e na pureza. Desejo-vos um ano feliz e luminoso, meus caros irmãos e irmãs! “ Sèvres, 1 de Janeiro de 1963 (à tarde)
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